Confira os destaques do nosso colaborador Roberto Alexandre Levy nas Ășltimas semanas:
1) Pacote do Veneno: tensĂ”es polĂticas e agropecuĂĄrias ameaçam segurança alimentar e ambiental
O polĂȘmico Projeto de Lei nÂș 1459/2022, amplamente referido como âPacote do Venenoâ [1], ressurge nas discussĂ”es legislativas, promovendo preocupaçÔes profundas quanto Ă saĂșde pĂșblica e ao meio ambiente. Este projeto visa revogar dĂ©cadas de normativas sobre agrotĂłxicos, buscando aumentar a flexibilidade em sua comercialização. OriginĂĄrio do Projeto de Lei nÂș 6.299/2002, apresentado por Blairo Maggi, reconhecido por suas relaçÔes com o agronegĂłcio, agora se encontra em pauta na ComissĂŁo de Meio Ambiente (CMA) do Senado. ApĂłs a apresentação de um relatĂłrio favorĂĄvel por Fabiano Contarato (PT-SE), a votação foi adiada devido ao pedido da Frente Parlamentar de Apoio Ă AgropecuĂĄria (FPA), mas promete retornar jĂĄ na primeira semana de outubro.
Em um panorama mais amplo, o governo Lula, que deveria representar uma esperança para os ideais progressistas, surpreendentemente trai as expectativas ao entrar em negociaçÔes com a ex-ministra da Agricultura da gestĂŁo Bolsonaro, Tereza Cristina, objetivando avançar na aprovação deste projeto no Senado. Tal movimentação, acompanhada pela jĂĄ polĂȘmica aprovação do projeto na CĂąmara em 2022, reforça a influĂȘncia persistente e expansiva do agronegĂłcio no cenĂĄrio polĂtico brasileiro. NĂŁo obstante a administração atual, a narrativa neoliberal se consolida, com o agronegĂłcio continuando a influenciar a legislação, em detrimento da segurança alimentar, saĂșde pĂșblica e integridade ambiental. As recentes açÔes do governo soam como um eco doloroso da DialĂ©tica do AgronegĂłcio [2]: o AgronegĂłcio, com sua insaciĂĄvel busca por lucro, continua a impor sua vontade, obscurecendo o verdadeiro significado de democracia e bem-estar social.
[1] Para maiores informaçÔes sobre o Pacote do Veneno, veja nossa publicação em https://www.projetoruptura.org/post/o-que-%C3%A9-o-pl-do-veneno-e-quais-seus-riscos.
[2] Veja nossa série de artigos publicados sobre o tema em: O agro é guerra; O agro é morte; O agro é fome.
Fontes: ContraosagrotĂłxicos.org; metrĂłpoles:
2) Marco Temporal e a disputa pelos direitos dos Povos OriginĂĄrios frente Ă influĂȘncia agropecuĂĄria
ApĂłs a decisĂŁo favorĂĄvel dos povos indĂgenas no Supremo Tribunal Federal (STF), rejeitando a âteseâ do marco temporal e afirmando os âdireitos originĂĄrios sobre as terras que tradicionalmente ocupamâ, uma sĂ©rie de reaçÔes e iniciativas no Congresso demonstram que a luta ainda estĂĄ longe de acabar.
A ComissĂŁo de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, em uma ação contrĂĄria Ă decisĂŁo do STF, aprovou um projeto que estabelece o marco temporal para demarcação de terras indĂgenas. Tal movimentação Ă© interpretada como uma resposta direta Ă decisĂŁo do Supremo e um aceno Ă bancada ruralista, com forte presença de senadores de partidos de centro e direita.
Em meio a este cenĂĄrio, divergĂȘncias entre os prĂłprios senadores sĂŁo notĂĄveis. Enquanto alguns defendem e valorizam a decisĂŁo do STF, argumentando pela inconstitucionalidade do marco temporal, outros veem o poder legislativo como autĂŽnomo e nĂŁo atrelado Ă s decisĂ”es do Supremo. As implicaçÔes vĂŁo alĂ©m da demarcação, com sugestĂ”es para a exploração econĂŽmica de terras indĂgenas, levantando debates sobre as reais intençÔes e necessidades destas comunidades. Como jĂĄ era esperado, a proposta tambĂ©m foi aprovada pelo senado no Ășltimo dia 27, e segue para sanção da PresidĂȘncia da RepĂșblica.
No entanto, o embate legislativo-judiciĂĄrio nĂŁo se limita Ă CCJ. Foi protocolada na CĂąmara uma Proposta de Emenda Ă Constituição (PEC) que busca permitir ao Congresso derrubar decisĂ”es do STF, tendo como exemplo citado a decisĂŁo sobre o marco temporal. Ainda que a PEC tenha um longo caminho legislativo pela frente, sua existĂȘncia indica as tensĂ”es crescentes entre os poderes.
No cenĂĄrio ambiental, dados mostram que a preservação das terras indĂgenas Ă© crucial para o combate ao desmatamento. Com 92% do desmatamento da AmazĂŽnia ocorrendo no entorno destas terras, elas se tornam fundamentais como âilhas verdesâ de biodiversidade e resistĂȘncia ao avanço de atividades agropecuĂĄrias e urbanas. Mesmo com estatĂsticas evidenciando a importĂąncia dessas terras para a conservação do bioma, as pressĂ”es por sua exploração e alteração de seus limites persistem.
Significativamente, o nĂŁo reconhecimento do marco temporal pode ter um impacto positivo no caminho do Brasil para a descarbonização, permitindo a expansĂŁo de ĂĄreas protegidas, incluindo terras indĂgenas [3].
Em sĂntese, a questĂŁo do marco temporal e dos direitos dos povos originĂĄrios segue sendo um tema de disputa intensa no Brasil. A decisĂŁo do STF representa um avanço, mas muitos desafios e debates ainda se apresentam no horizonte legislativo, especialmente diante da influĂȘncia da Frente Parlamentar de Apoio Ă AgropecuĂĄria (FPA).
[3] Para informaçÔes mais detalhadas sobre a Tese do Marco Temporal, veja nossa publicação;
Fontes: PolĂtica por inteiro; Terra; Senado 1; Senado 2; Agencia Brasil; MĂdia Ninja; Clima Info;
3) Crimes do AgronegĂłcio: trĂĄfico, garimpo ilegal e a expansĂŁo violenta da soja
A AmazĂŽnia brasileira, especificamente no estado do ParĂĄ, tornou-se palco de operaçÔes criminosas complexas, ligadas ao agronegĂłcio e ao trĂĄfico de drogas. A PolĂcia Federal identificou uma intrincada rede envolvendo traficantes, garimpeiros e empresĂĄrios. Essa organização, termo que se pode intitular de "narcogarimpo", utiliza o garimpo de ouro como fachada para a lavagem de dinheiro oriundo do trĂĄfico de drogas. Uma investigação extensa, que cobriu cinco anos de operaçÔes da PF, rastreou cerca de R$ 27 bilhĂ”es em ativos e negĂłcios suspeitos, o que revela a magnitude deste esquema.
Adicionalmente, na regiĂŁo sudoeste do ParĂĄ, a expansĂŁo desenfreada do monocultivo [4] de soja tem deixado marcas nĂŁo apenas ambientais, mas tambĂ©m socioculturais e econĂŽmicas. Desde o inĂcio dos anos 2000, um aumento significativo no desmatamento, impulsionado pela soja, transformou as dinĂąmicas da regiĂŁo. A relação entre essa prĂĄtica agrĂcola e o cenĂĄrio polĂtico brasileiro tambĂ©m nĂŁo passa despercebida. A defesa ferrenha do cultivo de soja por parte de algumas lideranças, como SĂ©rgio Schwade, diretor do Sindicato Rural de SantarĂ©m, exemplifica o que muitos tĂȘm chamado de "agrobolsonarismo". Esta combinação de prĂĄticas agrĂcolas intensivas e um viĂ©s polĂtico autoritĂĄrio Ă© colocada sob escrutĂnio, levando a reflexĂ”es sobre os impactos e as motivaçÔes dessa expansĂŁo agrĂcola.
A âguerra ecolĂłgicaâ citada por FĂĄbio Zuker delineia o cenĂĄrio perturbador de tĂĄticas violentas empregadas em prol da homogeneidade do cultivo, suprimindo a biodiversidade e a cultura das comunidades tradicionais. A ascensĂŁo e perpetuação dessas prĂĄticas agrĂcolas devastadoras, quando contrastadas com os mĂ©todos tradicionais de cultivo de comunidades indĂgenas e ribeirinhas, destacam um cenĂĄrio de desigualdade e conflito.
Como se nota, enquanto a AmazĂŽnia se vĂȘ enredada em esquemas de narcotrĂĄfico e garimpo ilegal, outras regiĂ”es enfrentam as consequĂȘncias socioambientais da expansĂŁo descontrolada da soja, mostrando que o agronegĂłcio no Brasil estĂĄ imerso em controvĂ©rsias e desafios Ă©ticos.
[4] Para saber mais sobre a produção das monoculturas no Brasil, acesse nossa publicação;
Fontes: Reporter Brasil; O Joio e o Trigo;
4) Crise ecolĂłgica e mudanças climĂĄticas: desafios, consequĂȘncias e implicaçÔes
A atual conjuntura global expĂ”e a realidade preocupante das consequĂȘncias ecolĂłgicas decorrentes das açÔes humanas. No Brasil, o aumento da pecuĂĄria Ă© evidenciado por dados recentes do IBGE, que revelam um nĂșmero de bois superando o de habitantes, com um total de 234,4 milhĂ”es de cabeças de gado em comparação com 203,1 milhĂ”es de pessoas.
O crescimento da pecuĂĄria, associado Ă alta nos preços dos alimentos, traz Ă luz as complexas questĂ”es ambientais, principalmente no que diz respeito ao desmatamento. Especialistas sugerem que a imposição de um preço para o carbono capturado pela AmazĂŽnia poderia incentivar prĂĄticas mais sustentĂĄveis, mudando potencialmente o destino da floresta e beneficiando o paĂs.
JĂĄ no sul do paĂs, Porto Alegre enfrenta as consequĂȘncias diretas das mudanças climĂĄticas. A elevada precipitação em setembro de 2023, que jĂĄ se configura como o mĂȘs mais chuvoso desde 1916, levou as ĂĄguas do GuaĂba a avançar pela orla, culminando em possĂveis inundaçÔes. Esta instabilidade Ă© ampliada pela formação de ciclones extratropicais, que intensificam a vulnerabilidade da cidade.
Inobstante, o Amazonas, a maior região amazÎnica do Brasil, passa por uma estiagem sem precedentes. O impacto desse fenÎmeno atinge diretamente o acesso à ågua e alimentos de quase meio milhão de habitantes. A seca compromete o transporte fluvial, principal meio de deslocamento na região, e ameaça as operaçÔes da Zona Franca de Manaus.
Em nĂvel mundial, um abrangente estudo internacional, resultado da colaboração de pesquisadores de 13 universidades de diversos continentes, aponta uma crise climĂĄtica [5] que deteriora a qualidade da ĂĄgua dos rios. Com base na anĂĄlise de 965 estudos conduzidos ao longo de duas dĂ©cadas, o relatĂłrio, publicado recentemente na prestigiada revista Nature, evidencia um aumento expressivo nas temperaturas das ĂĄguas e na proliferação de algas, desencadeando uma queda preocupante nas concentraçÔes de oxigĂȘnio.
Os pesquisadores enfatizam a gravidade da situação, afirmando:
âA comparação de 965 estudos de caso indica que a qualidade da ĂĄgua dos rios geralmente se deteriora sob secas e ondas de calor [...]. TambĂ©m sĂŁo relatadas melhorias ou respostas mistas devido a mecanismos de neutralização, por exemplo, aumento da mobilização de poluentes versus diluição durante cheiasâ.
Estes resultados sublinham a necessidade urgente de polĂticas e medidas proativas para enfrentar as consequĂȘncias da crise climĂĄtica e garantir um recurso vital para a existĂȘncia humana: a ĂĄgua.
Nessa perspectiva, um alarme marinho ecoa dos oceanos frente ao aquecimento global [6]. Em recente avaliação da Organização MeteorolĂłgica Mundial (WMO), destacou-se o papel das temperaturas mĂ©dias da superfĂcie do mar na formação dos padrĂ”es do clima e ecossistemas marinhos. Estas temperaturas atingiram picos histĂłricos, afetando tanto o ambiente marinho quanto a economia das regiĂ”es envolvidas.
Regina Rodrigues, especialista em Oceanografia FĂsica da Universidade Federal de Santa Catarina, esclarece em entrevista ao UNRIC (United Nations Regional Information Centre) as questĂ”es que envolvem esses fenĂŽmenos. Com os oceanos desempenhando um papel crĂtico ao absorver 90% do calor das emissĂ”es, isto vem trazendo um custo devastador para o ecossistema marinho, com organismos incapazes de se adaptar rapidamente Ă s mudanças climĂĄticas.
No entanto, ainda hĂĄ esperança. Rodrigues enfatiza a necessidade de alcançar emissĂ”es lĂquidas zero, especialmente para proteger os oceanos. Ela adverte que, mesmo que as emissĂ”es sejam interrompidas agora, o calor no oceano persistirĂĄ por um longo tempo. A urgĂȘncia de agir Ă© clara, pois o oceano tem um limite na sua capacidade de absorver calor. Rodrigues conclui dizendo: âEspero que nĂŁo cheguemos a esse ponto, porque aĂ realmente estaremos em apurosâ.
Em ĂĄreas urbanas, como Nova York, inundaçÔes fora de Ă©poca tĂȘm afetado o cotidiano, resultando na paralisação de atividades e movimentação da cidade. Os registros desses eventos, documentados por residentes e divulgados em mĂdia global, evidenciam o impacto palpĂĄvel da mudança climĂĄtica.
Em paralelo, o Prof. Bill McGuire, especialista em Riscos GeofĂsicos e ClimĂĄticos da University College London, prevĂȘ que a sociedade, tal como a conhecemos, estĂĄ a caminho de um possĂvel colapso atĂ© 2050. Ele antecipa uma grave escassez de alimentos, em parte causada pela queda na produção agrĂcola e aumento populacional. Esta perspectiva alarmante nĂŁo Ă© uma reviravolta repentina em seu pensamento; atĂ© a COP26 em Glasgow, McGuire permaneceu otimista quanto Ă capacidade da polĂtica de encontrar soluçÔes para o aquecimento global. No entanto, decepcionado com os esforços em limitar o aquecimento a 1,5°C acima dos nĂveis prĂ©-industriais, ele declara: âEra completamente Ăłbvio que isso nĂŁo ia acontecerâ. Preparando-se para o pior, McGuire, adotou medidas de autossuficiĂȘncia e enfatizou a necessidade de cooperação comunitĂĄria. Ele enfatiza: âSe quisermos ter alguma chance de sobrevivĂȘncia, precisamos cooperar. Acho que isso Ă© absolutamente crĂticoâ.
Nos Alpes, glaciares estĂŁo derretendo em ritmo acelerado, culminando em consequĂȘncias como a formação de novos lagos e a exposição de corpos anteriormente sepultados pelo gelo. Para se ter uma ideia do impacto, o glaciar de Aletsch, uma das marcas geogrĂĄficas mais emblemĂĄticas da SuĂça, perdeu dois metros de sua extensĂŁo. Mesmo altitudes tradicionalmente protegidas, acima de 3,2 mil metros, nĂŁo foram poupadas. A camada de neve em picos acima de 2 mil metros foi a mais fina registrada em 25 anos.
Em regiĂ”es remotas, como a AntĂĄrtica, o crescimento acelerado de plantas florĂferas devido ao aquecimento global Ă© um indicativo perturbador das mudanças em curso. Pesquisadores observaram um aumento de dez vezes no crescimento de uma espĂ©cie e de cinco vezes para outra entre 2009 e 2019, predominantemente devido ao aquecimento climĂĄtico que favorece condiçÔes mais amenas. Estes estudos foram realizados na Ilha Signy, parte do continente gelado.
O panorama global revela que os efeitos das mudanças climĂĄticas sĂŁo tangĂveis e urgentes. A necessidade de polĂticas proativas e soluçÔes inovadoras Ă© evidente. A conjunção de todos esses eventos ressalta a fragilidade do equilĂbrio ecolĂłgico e a importĂąncia de açÔes imediatas para mitigar os desafios impostos pela crise climĂĄtica.
[5] Para saber mais sobre crise climåtica veja nossa publicação;
[6] Para saber mais sobre aquecimento global veja nossa publicação;
Fontes: Clima Info; CNN Brasil 1; CNN Brasil 2; Projeto Colabora; UNRIC; G1; inews; Uol; timesofindia; The Guardian;
5) Conflitos e Controvérsias: Desmatamento e lobby do Agro
Recentemente, a SuperintendĂȘncia de Desenvolvimento da AmazĂŽnia (Sudam) e a SuperintendĂȘncia de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) concederam R$ 42,38 bilhĂ”es em incentivos fiscais, com mais da metade destinados a cinco empresas de setores ambientalmente impactantes como mineração, energia e petrĂłleo. Notavelmente, a Vale, gigante da mineração, obteve um incentivo de R$ 18 bilhĂ”es, pagando apenas R$ 4,3 bilhĂ”es em royalties pela extração em CarajĂĄs, PA. CrĂticos alertam sobre esses incentivos contĂnuos a empresas com alto impacto ambiental e sugerem revisĂ”es nos critĂ©rios, priorizando projetos de biodiversidade.
Em Feliz Natal, MT, uma cidade marcada pelo desmatamento, controvĂ©rsias cercam o prefeito JosĂ© Antonio Dubiella. Uma investigação vinculou sua fazenda Ă extração ilegal de madeira no territĂłrio indĂgena do Xingu, e dados de satĂ©lite indicam significativos desmatamentos na ĂĄrea apĂłs a construção de ramais. AlĂ©m disso, Dubiella foi um dos alvos da operação Desbaste, onde 37 mandados de busca e apreensĂŁo foram expedidos contra indivĂduos envolvidos em crimes ambientais. O municĂpio de Feliz Natal destacou-se ainda pelo elevado Ăndice de desmatamento em 2023, sendo a maior ĂĄrea sob alerta no primeiro semestre na AmazĂŽnia Legal. Atualmente, ocupa a posição de terceira cidade mais desmatada da regiĂŁo.
No Mato Grosso, o desembargador Orlando de Almeida Perri, sĂłcio majoritĂĄrio de uma empresa de mineração, esteve no centro de um debate sobre uma lei que favorecia o setor. A postura e participação de Perri geraram crĂticas, levantando questĂ”es sobre conflitos de interesses e Ă©tica na magistratura.
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) iniciou uma investigação preliminar sobre a possĂvel violação de deveres por parte de Perri, jĂĄ que ele detĂ©m 85% da MVP ParticipaçÔes. Gustavo Sampaio Ferreira, especialista em direito constitucional, opina que, tendo controle significativo de uma empresa, Perri estaria impedido de exercer a magistratura e ainda ressalta o grave conflito de interesses no caso. Em sua defesa, o desembargador argumentou que sempre agiu âde boa-fĂ©â e que suas declaraçÔes no julgamento nĂŁo buscavam favorecimento pessoal.
Outrossim, o agronegócio, que tanto debatemos em sua dualidade de fome e destruição em nossas publicaçÔes nesta semana, mais uma vez estå no centro de uma controvérsia ambiental. O projeto de lei que pretendia regular o mercado de carbono no Brasil sofreu alteraçÔes substanciais, devido à pressão do setor agropecuårio. à crucial lembrar que, segundo o Sistema de Estimativas de EmissÔes e RemoçÔes de Gases de Efeito Estufa (SEEG), a agropecuåria é o segundo maior emissor de gases de efeito estufa no Brasil, atrås apenas do desmatamento.
Especialistas argumentam que, embora o agronegĂłcio defenda sua eficiĂȘncia, seus impactos ambientais sĂŁo significativos e precisam ser abordados com responsabilidade e proatividade. A grande ironia, entretanto, encontra-se na reivindicação do setor. O deputado TiĂŁo Medeiros (PP-PR) enaltece o agro brasileiro como âo mais eficiente do mundoâ, utilizando prĂĄticas que a Europa sĂł agora começou a adotar, como se fosse possĂvel nos darmos ao luxo de acomodação em comparaçÔes. A crise climĂĄtica Ă© uma realidade tangĂvel e iminente, e o Brasil, com sua vasta extensĂŁo agrĂcola e significativa contribuição para as emissĂ”es globais, precisa ser proativo e responsĂĄvel.
Lembremo-nos, mais uma vez, da dualidade que o agronegĂłcio carrega. NĂŁo podemos permitir que, sob a mĂĄscara da eficiĂȘncia, ignoremos o peso real de suas açÔes. A urgĂȘncia climĂĄtica nĂŁo espera. E o agro, como um dos principais atores nesta trama, precisa desempenhar seu papel com consciĂȘncia e responsabilidade. Contudo, jĂĄ conhecemos os problemas do modelo do setor [7] e sabemos que isto nĂŁo ocorrerĂĄ.
Nesse sentido, a complexa relação entre o poder judiciĂĄrio e o legislativo Ă© exemplificada pela controvĂ©rsia do âMarco Temporalâ e pelo lobby do setor. A Frente Parlamentar de Apoio Ă AgropecuĂĄria (FPA), com o suporte de 374 parlamentares, claramente visa proteger seus interesses, pressionando as discussĂ”es sobre demarcação de terras indĂgenas. Senador Marcos RogĂ©rio, relator do projeto e membro da FPA, junto ao seu presidente, Pedro Lupion, acusam o Supremo Tribunal Federal (STF) de âativismoâ, uma alegação que tenta minimizar os fundamentos jurĂdicos e sociais por trĂĄs das decisĂ”es do tribunal.
Esta cacofonia polĂtica, direcionada a preservar os interesses do agronegĂłcio, ameaça a terra, os povos indĂgenas e a rica biodiversidade do Brasil. Com manobras e disputas polĂticas em pleno andamento, surge a questĂŁo: atĂ© que ponto o agronegĂłcio sacrificarĂĄ o meio ambiente, os direitos humanos e a democracia brasileira para defender seus interesses?
[7] Para saber mais sobre os problemas da agricultura moderna capitalista, veja nossa publicação;
6) UE avança para banir falsos produtos verdes e barrar greenwashing
A UniĂŁo Europeia intensifica seus esforços para combater o greenwashing [8]. A partir de 2026, produtos que ostentam etiquetas como âsustentĂĄvelâ ou âecoâ terĂŁo que respaldar essas reivindicaçÔes com evidĂȘncias concretas. Esta ação vem em resposta Ă crescente demanda por transparĂȘncia na representação de produtos e serviços ambientalmente amigĂĄveis.
Entre as decisĂ”es marcantes estĂĄ a proibição de anunciar produtos que utilizam crĂ©ditos de carbono como neutros em carbono. Como aponta a autora Ilana Cardial: âOs novos relĂłgios da Apple, lançados hĂĄ pouco mais de uma semana com grande pompa, nĂŁo poderiam ser anunciados como o primeiro produto neutro em carbono da big tech, por exemploâ. Este Ă© apenas um sinal dos tempos, enfatizando a necessidade de açÔes verdadeiras e tangĂveis em prol do meio ambiente, em vez de meros gestos promocionais.
[8] Para saber um pouco mais sobre greenwashing, acesse nossa publicação;
Fonte: Capital Reset
7) Termina audiĂȘncia histĂłrica dos jovens portugueses que processam Estados por inação climĂĄtica
Seis jovens portugueses fizeram histĂłria ao processar Portugal e outros Estados por falta de ação em relação Ă mudança climĂĄtica. A audiĂȘncia, que ocorreu no Tribunal Europeu dos Direitos Humanos em Estrasburgo, representa um marco, pois, embora o tribunal tenha experiĂȘncia em questĂ”es ambientais, nunca abordou casos especĂficos relacionados ao clima. Embora as deliberaçÔes comecem no dia seguinte, a decisĂŁo final pode demorar mais de um ano para ser revelada.
Fonte: Publico.pt
8) Declaração PolĂtica da CĂșpula dos ODS
Em 18 de setembro de 2023, os 193 Estados-membros da ONU, de forma unĂąnime, adotaram a Declaração PolĂtica da CĂșpula dos Objetivos de Desenvolvimento SustentĂĄvel (ODS). A cĂșpula ressaltou que a âerradicação da pobreza em todas as suas formas e dimensĂ”es, incluindo a pobreza extrema, Ă© o maior desafio mundial e Ă© um requisito indispensĂĄvel para o desenvolvimento sustentĂĄvelâ.
Os pontos-chave deste marco histĂłrico incluem:
- Compromisso robusto com a Agenda 2030: Todos os participantes reiteraram a importĂąncia da Agenda 2030 como roteiro global, enfatizando seu papel crucial para superar crises e promover o desenvolvimento sustentĂĄvel.
- Uma visĂŁo focada em pessoas, planeta e parcerias: O documento destaca a urgĂȘncia de uma abordagem abrangente que beneficie as pessoas, cuide do nosso planeta, promova a prosperidade, paz e fomente parcerias colaborativas.
- Priorizando a inclusĂŁo e a diversidade: HĂĄ um forte chamado para combater todas as formas de discriminação, racismo e xenofobia. A ĂȘnfase Ă© colocada na promoção da inclusĂŁo e no respeito Ă diversidade, visando um mundo mais inclusivo e justo.
- Pensando nas geraçÔes futuras: A declaração sublinha a necessidade de promover mudanças sistĂȘmicas, garantindo um futuro pacĂfico, resiliente e sustentĂĄvel para as prĂłximas geraçÔes.
- Reafirmação dos princĂpios da Declaração do Rio: Os Estados-membros reiteraram sua dedicação aos princĂpios estabelecidos na Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, especialmente o princĂpio que destaca responsabilidades comuns, porĂ©m diferenciadas.
Fonte: Brasil.UN
9) Créditos de carbono na AmazÎnia e em outras florestas tropicais do planeta são ineficazes, mostra estudo
Pesquisa da Universidade da CalifĂłrnia em Berkeley, financiada pela ONG Carbon Market Watch e divulgada por veĂculos como Guardian, DW e Folha, revela sĂ©rias deficiĂȘncias nos crĂ©ditos de carbono em florestas tropicais certificados pela Verra. A anĂĄlise indica que projetos como os REDD+ nĂŁo sĂŁo eficazes para compensar emissĂ”es de carbono, inclusive, muitos deles nĂŁo oferecem proteção adequada Ă s comunidades locais vulnerĂĄveis.
Citando a pesquisa: â[...] os impactos ambientais sĂŁo bastante elevados e âquestionĂĄveisâ do ponto de vista do climĂĄtico. Ou seja, greenwashing puroâ. As descobertas tĂȘm implicaçÔes potenciais para grandes empresas como Shell, Eni e Delta Air Lines, que basearam suas declaraçÔes climĂĄticas nas compensaçÔes avaliadas no estudo.
Fonte: Clima Info
Comments