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NEWSLETTER #14

Confira os destaques do nosso colaborador Roberto Alexandre Levy nas Ășltimas semanas:


1) Pacote do Veneno: tensÔes políticas e agropecuårias ameaçam segurança alimentar e ambiental


O polĂȘmico Projeto de Lei nÂș 1459/2022, amplamente referido como “Pacote do Veneno” [1], ressurge nas discussĂ”es legislativas, promovendo preocupaçÔes profundas quanto Ă  saĂșde pĂșblica e ao meio ambiente. Este projeto visa revogar dĂ©cadas de normativas sobre agrotĂłxicos, buscando aumentar a flexibilidade em sua comercialização. OriginĂĄrio do Projeto de Lei nÂș 6.299/2002, apresentado por Blairo Maggi, reconhecido por suas relaçÔes com o agronegĂłcio, agora se encontra em pauta na ComissĂŁo de Meio Ambiente (CMA) do Senado. ApĂłs a apresentação de um relatĂłrio favorĂĄvel por Fabiano Contarato (PT-SE), a votação foi adiada devido ao pedido da Frente Parlamentar de Apoio Ă  AgropecuĂĄria (FPA), mas promete retornar jĂĄ na primeira semana de outubro.


Em um panorama mais amplo, o governo Lula, que deveria representar uma esperança para os ideais progressistas, surpreendentemente trai as expectativas ao entrar em negociaçÔes com a ex-ministra da Agricultura da gestĂŁo Bolsonaro, Tereza Cristina, objetivando avançar na aprovação deste projeto no Senado. Tal movimentação, acompanhada pela jĂĄ polĂȘmica aprovação do projeto na CĂąmara em 2022, reforça a influĂȘncia persistente e expansiva do agronegĂłcio no cenĂĄrio polĂ­tico brasileiro. NĂŁo obstante a administração atual, a narrativa neoliberal se consolida, com o agronegĂłcio continuando a influenciar a legislação, em detrimento da segurança alimentar, saĂșde pĂșblica e integridade ambiental. As recentes açÔes do governo soam como um eco doloroso da DialĂ©tica do AgronegĂłcio [2]: o AgronegĂłcio, com sua insaciĂĄvel busca por lucro, continua a impor sua vontade, obscurecendo o verdadeiro significado de democracia e bem-estar social.


[1] Para maiores informaçÔes sobre o Pacote do Veneno, veja nossa publicação em https://www.projetoruptura.org/post/o-que-%C3%A9-o-pl-do-veneno-e-quais-seus-riscos.

[2] Veja nossa série de artigos publicados sobre o tema em: O agro é guerra; O agro é morte; O agro é fome.


2) Marco Temporal e a disputa pelos direitos dos Povos OriginĂĄrios frente Ă  influĂȘncia agropecuĂĄria


ApĂłs a decisĂŁo favorĂĄvel dos povos indĂ­genas no Supremo Tribunal Federal (STF), rejeitando a “tese” do marco temporal e afirmando os “direitos originĂĄrios sobre as terras que tradicionalmente ocupam”, uma sĂ©rie de reaçÔes e iniciativas no Congresso demonstram que a luta ainda estĂĄ longe de acabar.


A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, em uma ação contråria à decisão do STF, aprovou um projeto que estabelece o marco temporal para demarcação de terras indígenas. Tal movimentação é interpretada como uma resposta direta à decisão do Supremo e um aceno à bancada ruralista, com forte presença de senadores de partidos de centro e direita.


Em meio a este cenĂĄrio, divergĂȘncias entre os prĂłprios senadores sĂŁo notĂĄveis. Enquanto alguns defendem e valorizam a decisĂŁo do STF, argumentando pela inconstitucionalidade do marco temporal, outros veem o poder legislativo como autĂŽnomo e nĂŁo atrelado Ă s decisĂ”es do Supremo. As implicaçÔes vĂŁo alĂ©m da demarcação, com sugestĂ”es para a exploração econĂŽmica de terras indĂ­genas, levantando debates sobre as reais intençÔes e necessidades destas comunidades. Como jĂĄ era esperado, a proposta tambĂ©m foi aprovada pelo senado no Ășltimo dia 27, e segue para sanção da PresidĂȘncia da RepĂșblica.


No entanto, o embate legislativo-judiciĂĄrio nĂŁo se limita Ă  CCJ. Foi protocolada na CĂąmara uma Proposta de Emenda Ă  Constituição (PEC) que busca permitir ao Congresso derrubar decisĂ”es do STF, tendo como exemplo citado a decisĂŁo sobre o marco temporal. Ainda que a PEC tenha um longo caminho legislativo pela frente, sua existĂȘncia indica as tensĂ”es crescentes entre os poderes.


No cenĂĄrio ambiental, dados mostram que a preservação das terras indĂ­genas Ă© crucial para o combate ao desmatamento. Com 92% do desmatamento da AmazĂŽnia ocorrendo no entorno destas terras, elas se tornam fundamentais como “ilhas verdes” de biodiversidade e resistĂȘncia ao avanço de atividades agropecuĂĄrias e urbanas. Mesmo com estatĂ­sticas evidenciando a importĂąncia dessas terras para a conservação do bioma, as pressĂ”es por sua exploração e alteração de seus limites persistem.


Significativamente, o não reconhecimento do marco temporal pode ter um impacto positivo no caminho do Brasil para a descarbonização, permitindo a expansão de åreas protegidas, incluindo terras indígenas [3].


Em sĂ­ntese, a questĂŁo do marco temporal e dos direitos dos povos originĂĄrios segue sendo um tema de disputa intensa no Brasil. A decisĂŁo do STF representa um avanço, mas muitos desafios e debates ainda se apresentam no horizonte legislativo, especialmente diante da influĂȘncia da Frente Parlamentar de Apoio Ă  AgropecuĂĄria (FPA).


[3] Para informaçÔes mais detalhadas sobre a Tese do Marco Temporal, veja nossa publicação;


3) Crimes do AgronegĂłcio: trĂĄfico, garimpo ilegal e a expansĂŁo violenta da soja


A AmazÎnia brasileira, especificamente no estado do Parå, tornou-se palco de operaçÔes criminosas complexas, ligadas ao agronegócio e ao tråfico de drogas. A Polícia Federal identificou uma intrincada rede envolvendo traficantes, garimpeiros e empresårios. Essa organização, termo que se pode intitular de "narcogarimpo", utiliza o garimpo de ouro como fachada para a lavagem de dinheiro oriundo do tråfico de drogas. Uma investigação extensa, que cobriu cinco anos de operaçÔes da PF, rastreou cerca de R$ 27 bilhÔes em ativos e negócios suspeitos, o que revela a magnitude deste esquema.


Adicionalmente, na regiĂŁo sudoeste do ParĂĄ, a expansĂŁo desenfreada do monocultivo [4] de soja tem deixado marcas nĂŁo apenas ambientais, mas tambĂ©m socioculturais e econĂŽmicas. Desde o inĂ­cio dos anos 2000, um aumento significativo no desmatamento, impulsionado pela soja, transformou as dinĂąmicas da regiĂŁo. A relação entre essa prĂĄtica agrĂ­cola e o cenĂĄrio polĂ­tico brasileiro tambĂ©m nĂŁo passa despercebida. A defesa ferrenha do cultivo de soja por parte de algumas lideranças, como SĂ©rgio Schwade, diretor do Sindicato Rural de SantarĂ©m, exemplifica o que muitos tĂȘm chamado de "agrobolsonarismo". Esta combinação de prĂĄticas agrĂ­colas intensivas e um viĂ©s polĂ­tico autoritĂĄrio Ă© colocada sob escrutĂ­nio, levando a reflexĂ”es sobre os impactos e as motivaçÔes dessa expansĂŁo agrĂ­cola.


A “guerra ecolĂłgica” citada por FĂĄbio Zuker delineia o cenĂĄrio perturbador de tĂĄticas violentas empregadas em prol da homogeneidade do cultivo, suprimindo a biodiversidade e a cultura das comunidades tradicionais. A ascensĂŁo e perpetuação dessas prĂĄticas agrĂ­colas devastadoras, quando contrastadas com os mĂ©todos tradicionais de cultivo de comunidades indĂ­genas e ribeirinhas, destacam um cenĂĄrio de desigualdade e conflito.


Como se nota, enquanto a AmazĂŽnia se vĂȘ enredada em esquemas de narcotrĂĄfico e garimpo ilegal, outras regiĂ”es enfrentam as consequĂȘncias socioambientais da expansĂŁo descontrolada da soja, mostrando que o agronegĂłcio no Brasil estĂĄ imerso em controvĂ©rsias e desafios Ă©ticos.


4) Crise ecolĂłgica e mudanças climĂĄticas: desafios, consequĂȘncias e implicaçÔes


A atual conjuntura global expĂ”e a realidade preocupante das consequĂȘncias ecolĂłgicas decorrentes das açÔes humanas. No Brasil, o aumento da pecuĂĄria Ă© evidenciado por dados recentes do IBGE, que revelam um nĂșmero de bois superando o de habitantes, com um total de 234,4 milhĂ”es de cabeças de gado em comparação com 203,1 milhĂ”es de pessoas.


O crescimento da pecuåria, associado à alta nos preços dos alimentos, traz à luz as complexas questÔes ambientais, principalmente no que diz respeito ao desmatamento. Especialistas sugerem que a imposição de um preço para o carbono capturado pela AmazÎnia poderia incentivar pråticas mais sustentåveis, mudando potencialmente o destino da floresta e beneficiando o país.


JĂĄ no sul do paĂ­s, Porto Alegre enfrenta as consequĂȘncias diretas das mudanças climĂĄticas. A elevada precipitação em setembro de 2023, que jĂĄ se configura como o mĂȘs mais chuvoso desde 1916, levou as ĂĄguas do GuaĂ­ba a avançar pela orla, culminando em possĂ­veis inundaçÔes. Esta instabilidade Ă© ampliada pela formação de ciclones extratropicais, que intensificam a vulnerabilidade da cidade.


Inobstante, o Amazonas, a maior região amazÎnica do Brasil, passa por uma estiagem sem precedentes. O impacto desse fenÎmeno atinge diretamente o acesso à ågua e alimentos de quase meio milhão de habitantes. A seca compromete o transporte fluvial, principal meio de deslocamento na região, e ameaça as operaçÔes da Zona Franca de Manaus.


Em nĂ­vel mundial, um abrangente estudo internacional, resultado da colaboração de pesquisadores de 13 universidades de diversos continentes, aponta uma crise climĂĄtica [5] que deteriora a qualidade da ĂĄgua dos rios. Com base na anĂĄlise de 965 estudos conduzidos ao longo de duas dĂ©cadas, o relatĂłrio, publicado recentemente na prestigiada revista Nature, evidencia um aumento expressivo nas temperaturas das ĂĄguas e na proliferação de algas, desencadeando uma queda preocupante nas concentraçÔes de oxigĂȘnio.

Os pesquisadores enfatizam a gravidade da situação, afirmando:


“A comparação de 965 estudos de caso indica que a qualidade da ĂĄgua dos rios geralmente se deteriora sob secas e ondas de calor [...]. TambĂ©m sĂŁo relatadas melhorias ou respostas mistas devido a mecanismos de neutralização, por exemplo, aumento da mobilização de poluentes versus diluição durante cheias”.


Estes resultados sublinham a necessidade urgente de polĂ­ticas e medidas proativas para enfrentar as consequĂȘncias da crise climĂĄtica e garantir um recurso vital para a existĂȘncia humana: a ĂĄgua.


Nessa perspectiva, um alarme marinho ecoa dos oceanos frente ao aquecimento global [6]. Em recente avaliação da Organização Meteorológica Mundial (WMO), destacou-se o papel das temperaturas médias da superfície do mar na formação dos padrÔes do clima e ecossistemas marinhos. Estas temperaturas atingiram picos históricos, afetando tanto o ambiente marinho quanto a economia das regiÔes envolvidas.

Regina Rodrigues, especialista em Oceanografia Física da Universidade Federal de Santa Catarina, esclarece em entrevista ao UNRIC (United Nations Regional Information Centre) as questÔes que envolvem esses fenÎmenos. Com os oceanos desempenhando um papel crítico ao absorver 90% do calor das emissÔes, isto vem trazendo um custo devastador para o ecossistema marinho, com organismos incapazes de se adaptar rapidamente às mudanças climåticas.


No entanto, ainda hĂĄ esperança. Rodrigues enfatiza a necessidade de alcançar emissĂ”es lĂ­quidas zero, especialmente para proteger os oceanos. Ela adverte que, mesmo que as emissĂ”es sejam interrompidas agora, o calor no oceano persistirĂĄ por um longo tempo. A urgĂȘncia de agir Ă© clara, pois o oceano tem um limite na sua capacidade de absorver calor. Rodrigues conclui dizendo: “Espero que nĂŁo cheguemos a esse ponto, porque aĂ­ realmente estaremos em apuros”.


Em ĂĄreas urbanas, como Nova York, inundaçÔes fora de Ă©poca tĂȘm afetado o cotidiano, resultando na paralisação de atividades e movimentação da cidade. Os registros desses eventos, documentados por residentes e divulgados em mĂ­dia global, evidenciam o impacto palpĂĄvel da mudança climĂĄtica.


Em paralelo, o Prof. Bill McGuire, especialista em Riscos GeofĂ­sicos e ClimĂĄticos da University College London, prevĂȘ que a sociedade, tal como a conhecemos, estĂĄ a caminho de um possĂ­vel colapso atĂ© 2050. Ele antecipa uma grave escassez de alimentos, em parte causada pela queda na produção agrĂ­cola e aumento populacional. Esta perspectiva alarmante nĂŁo Ă© uma reviravolta repentina em seu pensamento; atĂ© a COP26 em Glasgow, McGuire permaneceu otimista quanto Ă  capacidade da polĂ­tica de encontrar soluçÔes para o aquecimento global. No entanto, decepcionado com os esforços em limitar o aquecimento a 1,5°C acima dos nĂ­veis prĂ©-industriais, ele declara: “Era completamente Ăłbvio que isso nĂŁo ia acontecer”. Preparando-se para o pior, McGuire, adotou medidas de autossuficiĂȘncia e enfatizou a necessidade de cooperação comunitĂĄria. Ele enfatiza: “Se quisermos ter alguma chance de sobrevivĂȘncia, precisamos cooperar. Acho que isso Ă© absolutamente crĂ­tico”.


Nos Alpes, glaciares estĂŁo derretendo em ritmo acelerado, culminando em consequĂȘncias como a formação de novos lagos e a exposição de corpos anteriormente sepultados pelo gelo. Para se ter uma ideia do impacto, o glaciar de Aletsch, uma das marcas geogrĂĄficas mais emblemĂĄticas da Suíça, perdeu dois metros de sua extensĂŁo. Mesmo altitudes tradicionalmente protegidas, acima de 3,2 mil metros, nĂŁo foram poupadas. A camada de neve em picos acima de 2 mil metros foi a mais fina registrada em 25 anos.


Em regiÔes remotas, como a Antårtica, o crescimento acelerado de plantas floríferas devido ao aquecimento global é um indicativo perturbador das mudanças em curso. Pesquisadores observaram um aumento de dez vezes no crescimento de uma espécie e de cinco vezes para outra entre 2009 e 2019, predominantemente devido ao aquecimento climåtico que favorece condiçÔes mais amenas. Estes estudos foram realizados na Ilha Signy, parte do continente gelado.


O panorama global revela que os efeitos das mudanças climåticas são tangíveis e urgentes. A necessidade de políticas proativas e soluçÔes inovadoras é evidente. A conjunção de todos esses eventos ressalta a fragilidade do equilíbrio ecológico e a importùncia de açÔes imediatas para mitigar os desafios impostos pela crise climåtica.




5) Conflitos e Controvérsias: Desmatamento e lobby do Agro


Recentemente, a SuperintendĂȘncia de Desenvolvimento da AmazĂŽnia (Sudam) e a SuperintendĂȘncia de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) concederam R$ 42,38 bilhĂ”es em incentivos fiscais, com mais da metade destinados a cinco empresas de setores ambientalmente impactantes como mineração, energia e petrĂłleo. Notavelmente, a Vale, gigante da mineração, obteve um incentivo de R$ 18 bilhĂ”es, pagando apenas R$ 4,3 bilhĂ”es em royalties pela extração em CarajĂĄs, PA. CrĂ­ticos alertam sobre esses incentivos contĂ­nuos a empresas com alto impacto ambiental e sugerem revisĂ”es nos critĂ©rios, priorizando projetos de biodiversidade.


Em Feliz Natal, MT, uma cidade marcada pelo desmatamento, controvérsias cercam o prefeito José Antonio Dubiella. Uma investigação vinculou sua fazenda à extração ilegal de madeira no território indígena do Xingu, e dados de satélite indicam significativos desmatamentos na årea após a construção de ramais. Além disso, Dubiella foi um dos alvos da operação Desbaste, onde 37 mandados de busca e apreensão foram expedidos contra indivíduos envolvidos em crimes ambientais. O município de Feliz Natal destacou-se ainda pelo elevado índice de desmatamento em 2023, sendo a maior årea sob alerta no primeiro semestre na AmazÎnia Legal. Atualmente, ocupa a posição de terceira cidade mais desmatada da região.


No Mato Grosso, o desembargador Orlando de Almeida Perri, sócio majoritårio de uma empresa de mineração, esteve no centro de um debate sobre uma lei que favorecia o setor. A postura e participação de Perri geraram críticas, levantando questÔes sobre conflitos de interesses e ética na magistratura.


O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) iniciou uma investigação preliminar sobre a possĂ­vel violação de deveres por parte de Perri, jĂĄ que ele detĂ©m 85% da MVP ParticipaçÔes. Gustavo Sampaio Ferreira, especialista em direito constitucional, opina que, tendo controle significativo de uma empresa, Perri estaria impedido de exercer a magistratura e ainda ressalta o grave conflito de interesses no caso. Em sua defesa, o desembargador argumentou que sempre agiu “de boa-fĂ©â€ e que suas declaraçÔes no julgamento nĂŁo buscavam favorecimento pessoal.


Outrossim, o agronegĂłcio, que tanto debatemos em sua dualidade de fome e destruição em nossas publicaçÔes nesta semana, mais uma vez estĂĄ no centro de uma controvĂ©rsia ambiental. O projeto de lei que pretendia regular o mercado de carbono no Brasil sofreu alteraçÔes substanciais, devido Ă  pressĂŁo do setor agropecuĂĄrio. É crucial lembrar que, segundo o Sistema de Estimativas de EmissĂ”es e RemoçÔes de Gases de Efeito Estufa (SEEG), a agropecuĂĄria Ă© o segundo maior emissor de gases de efeito estufa no Brasil, atrĂĄs apenas do desmatamento.


Especialistas argumentam que, embora o agronegĂłcio defenda sua eficiĂȘncia, seus impactos ambientais sĂŁo significativos e precisam ser abordados com responsabilidade e proatividade. A grande ironia, entretanto, encontra-se na reivindicação do setor. O deputado TiĂŁo Medeiros (PP-PR) enaltece o agro brasileiro como “o mais eficiente do mundo”, utilizando prĂĄticas que a Europa sĂł agora começou a adotar, como se fosse possĂ­vel nos darmos ao luxo de acomodação em comparaçÔes. A crise climĂĄtica Ă© uma realidade tangĂ­vel e iminente, e o Brasil, com sua vasta extensĂŁo agrĂ­cola e significativa contribuição para as emissĂ”es globais, precisa ser proativo e responsĂĄvel.


Lembremo-nos, mais uma vez, da dualidade que o agronegĂłcio carrega. NĂŁo podemos permitir que, sob a mĂĄscara da eficiĂȘncia, ignoremos o peso real de suas açÔes. A urgĂȘncia climĂĄtica nĂŁo espera. E o agro, como um dos principais atores nesta trama, precisa desempenhar seu papel com consciĂȘncia e responsabilidade. Contudo, jĂĄ conhecemos os problemas do modelo do setor [7] e sabemos que isto nĂŁo ocorrerĂĄ.


Nesse sentido, a complexa relação entre o poder judiciĂĄrio e o legislativo Ă© exemplificada pela controvĂ©rsia do “Marco Temporal” e pelo lobby do setor. A Frente Parlamentar de Apoio Ă  AgropecuĂĄria (FPA), com o suporte de 374 parlamentares, claramente visa proteger seus interesses, pressionando as discussĂ”es sobre demarcação de terras indĂ­genas. Senador Marcos RogĂ©rio, relator do projeto e membro da FPA, junto ao seu presidente, Pedro Lupion, acusam o Supremo Tribunal Federal (STF) de “ativismo”, uma alegação que tenta minimizar os fundamentos jurĂ­dicos e sociais por trĂĄs das decisĂ”es do tribunal.


Esta cacofonia política, direcionada a preservar os interesses do agronegócio, ameaça a terra, os povos indígenas e a rica biodiversidade do Brasil. Com manobras e disputas políticas em pleno andamento, surge a questão: até que ponto o agronegócio sacrificarå o meio ambiente, os direitos humanos e a democracia brasileira para defender seus interesses?




6) UE avança para banir falsos produtos verdes e barrar greenwashing


A UniĂŁo Europeia intensifica seus esforços para combater o greenwashing [8]. A partir de 2026, produtos que ostentam etiquetas como “sustentĂĄvel” ou “eco” terĂŁo que respaldar essas reivindicaçÔes com evidĂȘncias concretas. Esta ação vem em resposta Ă  crescente demanda por transparĂȘncia na representação de produtos e serviços ambientalmente amigĂĄveis.


Entre as decisĂ”es marcantes estĂĄ a proibição de anunciar produtos que utilizam crĂ©ditos de carbono como neutros em carbono. Como aponta a autora Ilana Cardial: “Os novos relĂłgios da Apple, lançados hĂĄ pouco mais de uma semana com grande pompa, nĂŁo poderiam ser anunciados como o primeiro produto neutro em carbono da big tech, por exemplo”. Este Ă© apenas um sinal dos tempos, enfatizando a necessidade de açÔes verdadeiras e tangĂ­veis em prol do meio ambiente, em vez de meros gestos promocionais.

7) Termina audiĂȘncia histĂłrica dos jovens portugueses que processam Estados por inação climĂĄtica

Seis jovens portugueses fizeram histĂłria ao processar Portugal e outros Estados por falta de ação em relação Ă  mudança climĂĄtica. A audiĂȘncia, que ocorreu no Tribunal Europeu dos Direitos Humanos em Estrasburgo, representa um marco, pois, embora o tribunal tenha experiĂȘncia em questĂ”es ambientais, nunca abordou casos especĂ­ficos relacionados ao clima. Embora as deliberaçÔes comecem no dia seguinte, a decisĂŁo final pode demorar mais de um ano para ser revelada.

Fonte: Publico.pt


8) Declaração PolĂ­tica da CĂșpula dos ODS

Em 18 de setembro de 2023, os 193 Estados-membros da ONU, de forma unĂąnime, adotaram a Declaração PolĂ­tica da CĂșpula dos Objetivos de Desenvolvimento SustentĂĄvel (ODS). A cĂșpula ressaltou que a “erradicação da pobreza em todas as suas formas e dimensĂ”es, incluindo a pobreza extrema, Ă© o maior desafio mundial e Ă© um requisito indispensĂĄvel para o desenvolvimento sustentĂĄvel”.

Os pontos-chave deste marco histĂłrico incluem:

- Compromisso robusto com a Agenda 2030: Todos os participantes reiteraram a importĂąncia da Agenda 2030 como roteiro global, enfatizando seu papel crucial para superar crises e promover o desenvolvimento sustentĂĄvel.

- Uma visĂŁo focada em pessoas, planeta e parcerias: O documento destaca a urgĂȘncia de uma abordagem abrangente que beneficie as pessoas, cuide do nosso planeta, promova a prosperidade, paz e fomente parcerias colaborativas.

- Priorizando a inclusĂŁo e a diversidade: HĂĄ um forte chamado para combater todas as formas de discriminação, racismo e xenofobia. A ĂȘnfase Ă© colocada na promoção da inclusĂŁo e no respeito Ă  diversidade, visando um mundo mais inclusivo e justo.

- Pensando nas geraçÔes futuras: A declaração sublinha a necessidade de promover mudanças sistĂȘmicas, garantindo um futuro pacĂ­fico, resiliente e sustentĂĄvel para as prĂłximas geraçÔes.

- Reafirmação dos princípios da Declaração do Rio: Os Estados-membros reiteraram sua dedicação aos princípios estabelecidos na Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, especialmente o princípio que destaca responsabilidades comuns, porém diferenciadas.

Fonte: Brasil.UN


9) Créditos de carbono na AmazÎnia e em outras florestas tropicais do planeta são ineficazes, mostra estudo

Pesquisa da Universidade da CalifĂłrnia em Berkeley, financiada pela ONG Carbon Market Watch e divulgada por veĂ­culos como Guardian, DW e Folha, revela sĂ©rias deficiĂȘncias nos crĂ©ditos de carbono em florestas tropicais certificados pela Verra. A anĂĄlise indica que projetos como os REDD+ nĂŁo sĂŁo eficazes para compensar emissĂ”es de carbono, inclusive, muitos deles nĂŁo oferecem proteção adequada Ă s comunidades locais vulnerĂĄveis.

Citando a pesquisa: “[...] os impactos ambientais sĂŁo bastante elevados e ‘questionĂĄveis’ do ponto de vista do climĂĄtico. Ou seja, greenwashing puro”. As descobertas tĂȘm implicaçÔes potenciais para grandes empresas como Shell, Eni e Delta Air Lines, que basearam suas declaraçÔes climĂĄticas nas compensaçÔes avaliadas no estudo.

Fonte: Clima Info




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