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PLANTAS MEDICINAIS: DO BENEFÍCIO AO DESAPARECIMENTO DAS ESPÉCIES

Por Kanandra T. Bertoncello

O uso de plantas medicinais como alternativa terapêutica para o tratamento de doenças é uma prática milenar. Você mesmo já deve ter tomado um chá para aliviar uma dor de estômago ou até mesmo uma dor de cabeça, não é? O conhecimento popular sobre o uso das plantas medicinais certamente é uma riqueza da nossa cultura, e uma atenção especial merece ser dada não somente à proteção desse conhecimento popular, como também à proteção dessas espécies vegetais.


O emprego das plantas na recuperação da saúde tem se desenvolvido com o passar do tempo, desde as formas mais simples de tratamento local, provavelmente utilizadas pelos homens das cavernas, até formas tecnologicamente sofisticadas da fabricação industrial, pelo homem moderno. Apesar da enorme diferença entre os usos, em ambos os casos o homem percebeu que de alguma forma a existência das plantas proporcionava reações benéficas no organismo capazes de auxiliar no tratamento de doenças. Esses benefícios se devem a um princípio ativo presente na planta, seja ele uma substância isolada, ou um conjunto de substâncias que agem juntas, como um complexo fitoterápico.


No Brasil, os primeiros europeus que chegaram logo se depararam com uma grande quantidade de plantas medicinais que eram usadas pelas tribos que viviam aqui. Por intermédio dos pajés, o conhecimento das plantas locais e seus usos eram transmitidos e aprimorados de geração em geração. Tais informações foram absorvidas e difundidas pelos europeus que passaram a viver no país, já que a necessidade de viver do que a natureza tinha para oferecer ampliou o contato com a flora medicinal brasileira.


O Brasil possui a mais rica biodiversidade de plantas do mundo, compreendendo mais de 56,000 espécies de plantas, o equivalente a cerca de 19% do total existente no planeta. Contudo, menos de 1% de suas espécies vegetais foram investigadas por suas propriedades para uso medicinal (GIULIETTI, 2005). A população brasileira possui longa tradição no uso de plantas medicinais para o tratamento de diversas doenças agudas e crônicas. Isso tem chamado a atenção de pesquisadores brasileiros e de algumas empresas farmacêuticas brasileiras para estudar essas plantas nativas e seus princípios ativos. Inclusive, de acordo com as evidências científicas, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) regulamenta a produção e comercialização de 66 plantas e estabelece as condições de uso de cada fitoterápico (http: //portal.anvisa .gov.br /).


Por milênios, a humanidade confiou muito nas plantas para se alimentar e também para o alívio de doenças. Os produtos naturais sempre contribuíram amplamente para o desenvolvimento da medicina e ainda continuam a desempenhar um papel significativo na descoberta de medicamentos. Ironicamente, assim como começamos a reconhecer alguns dos benefícios do reino vegetal, também começamos a perceber que existe um declínio no número de espécies disponíveis. Este declínio na biodiversidade é em grande parte proveniente do resultado de atividades humanas, como a transformação drástica das paisagens naturais ou o desmatamento. Esses fenômenos representam uma séria ameaça ao desenvolvimento sustentável porque a diversidade de espécies de nosso planeta é um dos recursos mais importantes e insubstituíveis que possuímos. Portanto, a preservação da biodiversidade tornou-se uma questão primordial para a civilização humana e, portanto, uma questão de extrema preocupação (SEN; SAMANTA, 2014).


Uma vez esgotada, a regeneração das espécies pode levar de 5 a 10 milhões de anos, o que pode ter muitos efeitos negativos, tanto pra sociedade como para o meio ambiente. No campo da medicina, a perda de espécies pode afetar o processo de descoberta de medicamentos e, por fim, o gerenciamento de doenças. No meio ambiente, essa perda culminaria em um desiquilíbrio ambiental drástico. Dessa forma, a preocupação em proteger as espécies vegetais é grande, não somente pelos seus benefícios terapêuticos, mas pelas riquezas da biodiversidade brasileira.


GIULIETTI, A. M.; et al. Biodiversidade e conservação das plantas no Brasil. Megadiversidade. V.1, N. 1, Jul., 2005.


SEN, T.; SAMANTA, S. K. Medicinal Plants, Human Health and Biodiversity: A Broad Review. In: MUKHERJEE, J. (Ed.). Biotechnological Applications of Biodiversity. Advances in Biochemical Engineering/Biotechnology. Berlin, Heidelberg: Springer Berlin Heidelberg, 2014. v. 147p. 59–110.


LORENZI, Harri. Plantas medicinais no Brasil: nativas e exóticas. Editora: Plantarum. ed. 2. p. 544. 2008.

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