Por Kanandra T. Bertoncello
Dizer que as tartarugas marinhas possuem uma dieta à base de plástico é um tanto intrigante, mas se considerarmos que estimativas recentes indicam que a quantidade anual de plástico que entra nos oceanos em todo o mundo varia entre 4 e 12 milhões de toneladas (JAMBECK et al., 2015), isso começa a fazer um pouco de sentido.
Pelo menos 700 espécies já foram registradas por ingerir plásticos dispersos no oceano. Entre estas espécies estão todos os sete táxons existentes de tartarugas marinhas, que são frequentemente considerados como os grupos mais vulneráveis aos impactos da poluição por plástico. A ingestão deste material por estes animais tem sido relatada desde a década de 1980, e a frequência da ingestão tem aumentado desde então (CARR, 1987; KÜHN; BRAVO REBOLLEDO; VAN FRANEKER, 2015).
As tartarugas verdes (Chelonia mydas), por exemplo, nascem em praias de áreas tropicais e subtropicais, e então nadam para o oceano. Ao longo de suas vidas estes animais se alimentam em diferentes áreas marinhas, principalmente em ambientes costeiros, dos quais são suscetíveis à poluição devido à sua proximidade com centros urbanos. A ingestão inclui não apenas o plástico de uso comum, como sacolas plásticas, folhas de plástico e balões, mas também resíduos de atividades de pesca, como linhas, cordas e redes de plástico (MMA, 2014).
No Brasil, a tartaruga verde é classificada como vulnerável à extinção, por isso é de fundamental importância para a conservação da espécie monitorar os impactos que a afetam. Um estudo recente publicado na revista “Marine Pollution Bulletin” buscou avaliar a quantidade de plástico ingerido por tartarugas verdes no litoral do Rio Grande do Sul, no Brasil (PETRY et al., 2021). Os pesquisadores analisaram os estômagos de tartarugas encalhadas, que foram amostradas ao longo da costa do estado do Rio Grande do Sul entre os anos de 2013 e 2016.
Entre os 17 exemplares de tartarugas verdes coletados, 15 tinham plástico no estômago. Fragmentos de sacos e folhas de plástico, foram predominantes, bem como plásticos semelhantes a fios que eram compostos principalmente por linhas de nylon usadas na pesca.
A ingestão de plásticos pelas tartarugas está relacionada aos hábitos alimentares da espécie. Tartarugas verdes se alimentam de algas, plantas marinhas, animais gelatinosos, moluscos, crustáceos e peixes da região atlântica, portanto durante a busca por alimentos os detritos plásticos podem ser confundidos e consumidos.
A alta ingestão de plástico pelas tartarugas verdes nos oceanos é apenas um dos inúmeros exemplos de como este material representa uma séria ameaça à sobrevivência das espécies marinhas. Estudos como este, auxiliam em um melhor entendimento dos hábitos desses animais, que futuramente podem trazer alternativas para preservar estas espécies diante a poluição por plástico. Contudo, a resolução para este problema, pode iniciar na redução do uso desse material no nosso dia-a-dia.
Referências:
CARR, A. Impact of nondegradable marine debris on the ecology and survival outlook of sea turtles. Marine Pollution Bulletin, v. 18, n. 6, p. 352–356, jun. 1987.
JAMBECK, J. R. et al. Plastic waste inputs from land into the ocean. Science, v. 347, n. 6223, p. 768–771, 13 fev. 2015.
KÜHN, S.; BRAVO REBOLLEDO, E. L.; VAN FRANEKER, J. A. Deleterious Effects of Litter on Marine Life. In: BERGMANN, M.; GUTOW, L.; KLAGES, M. (Eds.). . Marine Anthropogenic Litter. Cham: Springer International Publishing, 2015. p. 75–116.
MMA (Ministério do Meio Ambiente), 2014. Lista de espécies da fauna brasileira ameaçadas de extinção.www.icmbio.gov.br/portal/biodiversidade/fauna-brasi leira/lista-de-especies.
PETRY, M. V. et al. Plastic ingestion by juvenile green turtles (Chelonia mydas) off the coast of Southern Brazil. Marine Pollution Bulletin, v. 167, p. 112337, jun. 2021.
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