O ecossocialismo "é uma corrente de pensamento e ação – ou seja, a práxis – voltada para a superação da dicotomia entre homem e natureza para promover uma síntese ecológica marxista que leve à emancipação e à construção de uma sociedade socialista global” (FERNANDES, 2020, p. 130). ).
Pode ser dividido em:
Primeira etapa: tentou incorporar a regulação da natureza ao socialismo. No entanto, faltava atenção nos escritos de Karl Marx e Friedrich Engels. Entre os autores: James O’Connor, Ted Benton, André Gorz, Michael Löwy e Alain Lipietz.
Segunda fase: retomam os textos de Marx e Engels e mostram que os autores trataram de questões ecológicas e abandonaram o otimismo em relação ao desenvolvimento tecnológico do Manifesto Comunista de 1848. John Bellamy Foster, Paul Burkett, Kohei Saito, Sabrina Fernandes.
John Bellamy Foster
Desenvolveu a teoria da fratura metabólica de Marx mais profundamente
Foster argumenta que o pensamento de Marx, especialmente em sua fase mais madura, é marcado por uma visão de mundo ecológica que deriva de sua visão materialista da história e da natureza.
Tenta responder às críticas de que Marx é produtivista.
Segundo Foster, influenciado pelas obras de Justus Von Liebig e Charles Darwin e sua crítica ao malthusianismo, Marx desenvolveu o conceito de fratura metabólica.
Ele defende que Marx via a natureza como uma extensão do corpo humano, ou seja, como o “corpo inorgânico” do homem.
Kohei Saito
Kohei Saito tenta mostrar em sua tese a evolução da análise de Marx e seu afastamento do otimismo pelo desenvolvimento dos meios de produção (apresentado, por exemplo, no Manifesto do Partido Comunista de 1848), a ponto de considerar as crises ecológicas como contradições inerente ao sistema capitalista.
Saito demonstra a influência de Justus von Liebig e Carl Fraas sobre Marx em seus estudos de ciências naturais, em particular analisando seus cadernos e manuscritos a partir de 1865.
Assim como Foster, tentando superar as críticas que acusam Marx de ser "prometéico", Saito demonstra que já no Livro 1 do Capital Marx expressa preocupações ecológicas que começam a permear todo o projeto de uma sociedade pós-capitalista.
Saito apresenta a teorização do conceito de "metabolismo" (Stoffwechsel) utilizado por Marx em sua pesquisa que lhe permitiu compreender as condições naturais trans-históricas universais da produção humana e investigar as transformações históricas radicais sob o desenvolvimento do sistema produtivo moderno.
Metabolismo (Stoffwechsel)
O metabolismo é "um processo incessante de troca orgânica de compostos antigos e novos por meio de combinações, assimilações e excreções, para que toda ação orgânica possa continuar" (SAITO, 2021).
Para Marx, o ser humano se diferencia dos demais animais por sua única atividade produtiva: o trabalho, que é o meio de interação do homem com o metabolismo natural.
Desde 1844 Marx reconheceu a necessidade de tratar a natureza e os seres humanos em sua inter-relação como seres humanos também são "parte da natureza". Por isso, a história deve ser entendida como um processo mediado pela humanização da natureza e pela naturalização do homem, pois a natureza é continuamente transformada pela produção social, na qual homem e natureza atuam e se constituem (Marx segundo Foster, 2005).
A teoria da fratura metabólica
A relação equilibrada no metabolismo entre natureza e ser humano tem sido abalada pelo desenvolvimento e globalização do modo de produção capitalista, gerando uma fratura metabólica, pois nesse tipo de sociedade a humanidade age contra a natureza externa e não como parte integrante dela , caracterizando-se como uma imposição da humanidade sobre a natureza.
A ruptura metabólica é a quebra da unidade original entre ser humano e meio ambiente devido à lógica da apropriação ilimitada dos recursos naturais pelo desenvolvimento capitalista.
O capitalismo seria, assim, fundamentalmente caracterizado pela alienação da natureza e uma relação distorcida entre o homem e a natureza.
Segundo Saito (2021), Marx demonstra que “a crise do ecossistema moderno é uma manifestação da contradição inerente ao capitalismo, que resulta necessariamente da forma especificamente capitalista de organizar o metabolismo social e natural”.
Ao escrever "O Capital", Marx estava convencido da insustentabilidade da agricultura capitalista, principalmente devido à crise agrícola europeia e norte-americana associada ao esgotamento da fertilidade natural do solo e às explicações químicas do fenômeno Justus von Liebig (FOSTER , 2005, p. 213).
Marx também acompanhou a polêmica entre a escola de química e a escola de física. Ele também analisou as críticas de Carl Fraas à teoria de Justus von Liebig. Carl Frases não rejeitou completamente a teoria química de Liebig, mas a integrou, destacando os efeitos físicos do desmatamento nas mudanças climáticas que afetaram a produção agrícola moderna. Fraas argumenta ainda que os problemas que afetam a agricultura podem ser resolvidos se o homem agir em parceria com a natureza (SAITO, 2021).
A ideia central da teoria Fraas é semelhante àquelas práticas que atualmente estão sendo estudadas pela Agroecologia. De fato, a visão ecológica de produção agrícola de Marx é agora amplamente utilizada por escolas de pensamento e movimentos agroecológicos na América Latina. Nesse sentido, pode-se usar a teoria da fratura metabólica de Marx para demonstrar que as práticas produtivas agroecológicas desenvolvidas na América Latina (em particular pelo MST no Brasil e pela FENOCIN no Equador) operam em uma lógica externa à da agricultura capitalista moderna, focado em uma relação equilibrada entre humanos e ecossistemas e em um modelo de produtores associados (DALLA RIVA, 2020).
Os estudos sobre as ciências naturais e principalmente a influência do debate entre Justus von Liebig e Carl Fraas levaram Marx a teorizar que uma futura sociedade não capitalista deveria ser capaz de manter de forma sustentável as condições naturais e inorgânicas da sobrevivência humana (FOSTER 2012 , p. 91);
Em O capital, Marx começou a reivindicar a regulação racional e sustentável do metabolismo entre os seres humanos e a natureza como tarefa essencial de uma nova sociedade de produtores associados;
O ecossocialismo entende, do ponto de vista metabólico, que qualquer discussão sobre o modo de produção e a força de trabalho deve ser ecológica. Portanto, quando, no ecossocialismo, falamos de outro sistema, a busca por qualidade de vida, soberania alimentar, cidades organizadas de forma sustentável, valorização dos serviços relacionados à saúde e educação e atenção à importância da cultura entram no debate sobre desenvolvimento e progresso (FERNANDES, 2020, p. 133)
“O ecossocialismo é a alternativa sistêmica proposta, enquanto os debates sobre decrescimento, transição justa, sustentabilidade, descarbonização (superação de atividades e modelos energéticos de produção intensa de gases de efeito estufa), pós-extrativismo (superação do modelo de mineração industrial) e bem viver (cosmovisão sobre que tipo de relações sociais e com a natureza queremos) são incorporadas nas sínteses do ecossocialismo” (FERNANDES, 2020, p. 134)
Fontes:
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